No Facebook, ele se autointitula “Arlindo Anomalia”. Com 73 centímetros de bíceps, afirma que sua meta é fazê-los chegar a um metro de diâmetro. Morador de Olinda, em Pernambuco, o fisiculturista Arlindo de Souza, de 43 anos, virou assunto na imprensa internacional, ontem, ao admitir que injetou óleo mineral com álcool nos músculos para inflá-los. A notícia sobre o exagero, cada vez mais comum, para conquistar um corpo “marombado” veio apenas três dias após a morte do analista de laboratório Marcos Paulo Batista dos Santos, de 34 anos, que perdeu a vida depois de aplicar silicone industrial nos braços, em Goiás.
A introdução no organismo de qualquer material que não seja próprio para uso médico implica uma série de riscos. Um deles é a síndrome da resposta inflamatória, uma infecção local que culmina na necrose de tecidos. Se o problema não for tratado rapidamente, com a retirada cirúrgica das partes mortas, ele pode evoluir para infecção secundária, levando à falência múltipla de órgãos e sistemas.
— A resposta inflamatória pode ocorrer algumas horas ou alguns dias após a aplicação — explica o cirurgião plástico Ricardo Cavalcanti, diretor médico da Clínica Vitée.
Outro perigo de injetar silicone industrial ou óleo mineral no corpo é o de provocar uma embolia. Nesse caso, a substância cai na corrente sanguínea, podendo parar no pulmão e causar morte por insuficiência respiratória, ou obstruir algum vaso e originar um enfarte.
De acordo com o cirurgião plástico Rogério Figueira, especialmente no uso do silicone industrial, há também o risco de se formar um siliconoma, tumor constituído do material que pode aparecer tanto no local onde foi feita a aplicação quanto em outra região do corpo — como a substância é líquida, ela se espalha facilmente.
— Às vezes, o siliconoma causa infecção ou necrose. O paciente fica deformado, e nem sempre é possível reconstruir os tecidos — diz.
Para Figueira, é preciso abandonar o pensamento imediatista na busca pela boa forma:
— As pessoas ficam contando com a sorte. Fazem procedimentos caseiros sem pensar no que pode acontecer no futuro, até que uma hora dá problema.
Segundo Ricardo Cavalcanti, em geral, a aplicação de silicone industrial, usado na manutenção de carros e esquadrias, é realizada em academias ou clínicas clandestinas: “Como o líquido é espesso, utiliza-se uma agulha grossa. Só que a tendência do silicone é voltar pelo orifício, então as pessoas costumam selá-lo com esmalte ou cola instantânea”.
Apenas o silicone médico é purificado e esterilizado, ou seja, próprio para implantes. Vermelhidão, aumento da temperatura local e surgimento de manchas escuras, além de febre, são sinais de que um tecido sofreu necrose.