Nos últimos 15 anos aumentou em 800% o número de vítimas em motocicletas.
Periodicamente são divulgadas estatísticas sobre acidentes envolvendo motociclistas. Uma delas mostra que nos últimos 15 anos aumentou em 800% o número de vítimas em motocicletas. Já vi todo tipo de manipulação de dados, mas este foi campeão!
Aposto que em 1930 o aumento no número de acidentes de trânsito deve ter crescido em uma progressão geométrica muito maior! Afinal, foi em 1929 que os automóveis começaram a ser produzidos em escala industrial.
Já ouvi e li todo tipo de bobagem envolvendo segurança de motociclista. Algumas preconceituosas e tendenciosas como a proibição de transportar passageiro ou a idéia absurda de colar o número da placa da moto no capacete do motociclista. Em todo o Brasil a preocupação (atrasada) com estas vítimas tem resultado em medidas das mais absurdas – como simplesmente fazer de conta que não existe – até sugestões como a proibição de circulação das motos entre os carros.
Recentemente surgiram mais duas: obrigar o uso de colete inflável (air-bag) e limitar a velocidade das motos a 110 km/h. São as famosas "canetadas" que visam muito mais proporcionar holofote aos autores aos projetos de lei, do que salvar vidas. E o triste é que conseguem...
Nos dois casos acredito fielmente não haver e menor chance de regulamentação. Até hoje nenhum fabricante ou importador de colete inflável submeteu o produto a um órgão certificador brasileiro para avaliar o real benefício do equipamento. Não existe nenhum certificado emitido no Brasil que confirme a eficiência, logo é um julgamento totalmente aleatório, sem um parecer técnico. Sem falar que, mais uma vez, estão eliminando os sintomas e não a doença. É muito melhor não permitir o acidente do que reduzir as consequências dele. Seria como exigir que a população usasse colete à prova de balas para reduzir o número de homicídios!
A segunda sugestão é limitar a velocidade das motos já na fábrica. Outra burrice sem precedentes. O limite de velocidade já existe e chama-se LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO! Os limites estão visíveis na forma de placas, se elas não são obedecidas voltamos ao cerne da questão: os cidadãos não respeitam mais o Estado porque o Estado não se dá ao respeito.
Cansei de escrever que o Brasil vive hoje a maior inversão de valores de sua História. A vítima é punida, enquanto o algoz é perdoado. Enquanto as leis forem criadas, avaliadas e aprovadas por pessoas comuns, sem aval técnico, estamos sujeitos a todo tipo de canetada como se cada motociclista brasileiro gostasse de se acidentar e morrer espatifado. Nós somos os vilões e a categoria política veio ao mundo para tentar nos salvar... só que não!
Como a administração pública precisa correr atrás da cura para uma doença que ela mesma deixou espalhar e perdeu o controle, o sonho de cada prefeito seria pura e simplesmente proibir a venda e circulação de motos. Imagine a felicidade que um prefeito, vereador ou deputado teria em anunciar que foi o responsável pelo fim dos acidentes envolvendo motociclistas.
O trânsito é uma competência municipal, baseado no Código Brasileiro de Trânsito. Prefeituras têm poder de criar ou vetar leis que regulamentam o trânsito de forma a garantir a segurança dos seus cidadãos ou aumentar a arrecadação, conforme a prioridade. A grande imprensa já mostrou várias reportagens denunciando a indústria da multa. Já gravaram conversas entre as empresas fornecedoras dos radares com prefeitos e secretários nas quais eram revelados os dados estatísticos que garantiam o aumento na arrecadação em mais de 30% da noite pro dia.
Hoje temos uma situação bem clara de busca de arrecadação por meio das multas. Dinheiro que tem livre aplicação e pode servir até mesmo para sustentar campanhas políticas, já que em mais uma distorção típica do Brasil o trânsito é uma atribuição administrada por políticos. Diretores de Detrans e Ciretrans são nomeados por políticos e isso já exclui qualquer possibilidade de uma administração honesta e competente.
Veja, por exemplo, as enormes dificuldades que um cidadão comum tem para transferir um documento. Tudo para evitar fraudes, embora a cada ano cresça o número de veículos roubados.
Portanto estamos diante de uma realidade de difícil gerenciamento. De um lado temos os dados de acidentes envolvendo motociclistas. Do outro lado temos a incapacidade de gerenciamento do trânsito por ser uma atribuição política e não técnica. Junto a isso tudo temos pessoas com comportamento cada vez menos social e mais individual, tratando o bem público como privada. E a pressão da União pela redução das vítimas que oneram o sistema de saúde pública.
Você acredita mesmo que tem solução? Aquela idéia estapafúrdia de proibir a produção, venda e circulação de motos começa a não ser tão absurda assim! Aposto que este é o sonho do ministro da Saúde e de muito prefeito!